Fugir da solidão sempre foi uma de minhas prioridades. Sempre pedi a Deus que me reservasse um marido com uma família bem grande e Ele até atendeu meu pedido, porém cada passo do meu caminhar nesta família é esquadrinhado.
Neste momento apoio meus cotovelos no peitoril da janela e faço dela a moldura de meus desalentos.
Daqui a pouco devo descer para o jantar. Sentar-me à mesa torna-me prisioneira de olhares invejosos e petulantes. Desço as escadas lentamente e ao chegar no último degrau percebo que só falta eu para compor a mesa.
Ao me sentar, Fernando segura minha mão e a coloca em sua coxa. Ele sorri e pergunta o que vou querer.
Meu marido é um homem gentil e dedicado, além de ser atento para com as hostilidades que me são lançadas, e aí resolve quebrar o gelo perguntando para a tia sobre seu dia.
Ela se endireita na cadeira de encosto alto e aveludado, dispara um sorriso amarelo e diz com voz gutural:
- Teria sido melhor se eu não tivesse que lidar com pessoas insuportáveis - levantando uma das sobrancelhas.
Prima Elândia pigarreia e Neylor, o tio caçula, bebe um farto gole de vinho.
Eu oxigeno meus pulmões enquanto sorvo um suco de laranja, que me cai nas papilas como se fosse limão.
Eu nunca poderia supor que algo desse tipo fosse acontecer, no entanto aceitei me casar, porque foi tudo por amor, embora, me julgassem e me agredissem insuflando um golpe do baú.
Entrei nesse família pela porta da frente e de cabeça erguida. Aceitei as imposições e não lhes devo nada, aliás, muito pelo contrário.